Juízo- O documentário

Documentário narra o cotidiano de jovens infratores no Judiciário.Longa-metragem que estreiou sexta é uma versão 'juvenil' de seu filme anterior, 'Justiça'.


Um filme sobre a juventude que mora na periferia, nas áreas pobres, em favelas, que não tem oportunidades e que quer ter, mas muitas vezes se envolve com o crime. É assim que a diretora Maria Augusta Ramos entende o seu documentário “Juízo”, sobre adolescentes infratores. O filme, que estreiou nesta sexta-feira (14), é uma versão juvenil, e por isso mais pesado, de seu longa-metragem anterior, “Justiça”, que tratava de como os adultos envolvidos com crimes lidam com o Judiciário. “Acho que é sobre essa geração de jovens, de crianças, de adolescentes, de gente de comunidades carentes que sabe, que tem consciência da miséria em que vive, da falta de possibilidades, da perspectiva de vida, que se sente explorada, que acha que tem mais direitos do que lhe é dado, e que ao mesmo tempo está sedenta, que quer sair dali, que quer trabalho, que quer estudar.” Mas ela não classifica essa turma nem de “perdida” nem com nenhum outro adjetivo. Maria Augusta está interessada em que o próprio espectador tome partido do que está vendo. “Eu acredito que (o filme) não traz as questões prontas. E eu nem tenho como explicar, eu não sei. Porque o filme, para mim, é uma viagem de descoberta. Eu não vou fazer ‘eu quero dizer isso ou aquilo’. E, nem no final, eu sei exatamente o que eu quis dizer. Eu acho que o barato é justamente deixar que a realidade fale por si só. E que o público veja muito mais do que eu, cada um veja um pouco o que quer ver.”
Atores em documentário
Impedida pelas leis brasileiras de mostrar os rostos dos meninos e meninas infratores, Maria Augusta optou por uma estratégia que poderia soar estranho, mas que convence do início ao fim. Ela usa atores não-profissionais - com as mesmas idades, também de comunidades pobres e que vivem as mesmas dificuldades - para substituí-los. “Esses meninos (os atores) são talentosos, mas eu acho que não foi difícil e não seria difícil achar meninos que vivem a mesma realidade (que os infratores) porque todos eles vivem (a mesma realidade). Setenta e cinco por cento das meninas adolescentes (das comunidades onde ela conseguiu os atores) estão grávidas ou são mães, isso é muito assustador. Porque é uma realidade muito próxima. A gente às vezes não dá conta de que filmar no (Instituto) Padre Severino (para menores infratores) era uma barra. Eu dizia para eles, ‘vocês vão encontrar gente da favela, até colegas de vocês e não pode falar nem cumprimentar’. E obviamente eles encontravam e cumprimentavam. E isso foi importante. A consciência de que eles poderiam estar ali. E também para o público, que vê isso, essa realidade deles. Está estampada no rosto.” A diretora, que é contra a pena de morte e a redução da maioridade penal, opina que, para impedir que os meninos de “Juízo” se transformem nos homens de “Justiça”, basta dar oportunidades para todos os detidos. “A solução é fazer com que eles não cheguem ali (no Poder Judiciário). É conter essa massa de acusados, de delitos. E quando eles chegam ali, tentar, porque não dá para mudar a sociedade de uma hora para outra, dar a possibilidade de ressocialização, que essas pessoas não precisam reincidir. Mas é isso que acontece. Ele sai sem a menor possibilidade de trabalho e aí volta.”

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