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Mostrando postagens de maio, 2010

BANZO Capítulo 7

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Uma história em doze capítulos e um epílogo Estar nua no Princesa. Essa é minha lembrança mais viva. A rede em que ELE pescava era um lençol incompleto que recebia meu corpo ávido e entregue. Eu não era mais menina e estava longe de ser uma mulher. E ELE...Abria caminhos em meu corpo que nenhum homem soube percorrer novamente. Incansável, poderoso e pleno. Constante como as remadas que nos traziam a recantos do mar que somente ELE conhecia. O meu corpo era repleto de segredos que ELE desvendava com urgência... E sem nenhuma pressa. O Princesa era nosso leito. O mar e as estrelas nossos cúmplices. Nessas noites compartilhadas com ELE, novos segredos eram sempre revelados. E eu me revelava com eles. E eu me revelava a ELE. Nessas noites eu aprendi a me conhecer. E conhecia a ELE e ELE a mim. E entre brigas e reencontros nos desbrávavamos sem nenhum pudor... E nos sentíamos cada vez mais puros... Nossa nurdez tornava-se um estado natural de profundo amor.O mundo inteiro estava nu aos noss

BANZO- capítulo 6

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Uma história em 12 capitulos e 1 epílogo Capitulo 6 " - O que estamos fazendo?" "- O que parece?" "- Eu sei o que parece,mas o que realmente estamos fazendo? "- Não foi pra isso que voltamos?" "- Foi?" "- Para que estão? Ver nossa antiga casa como dois velhos saudosos? "- Não é isso que somos no fundo?" "- Não,é o que somos na superfície." "- ..." "- Mais alguma pergunta velhinho?" "- Por que trouxemos ele?" "- Não fazemos isso há cinquenta anos. Podemos precisar de ajuda." Não precisávamos. Eu preparava a rede com a mesma destreza de sempre. Meu irmão remava com os braços firmes na direção dos peixes que ele sempre soube onde encontrar. O garoto de 14 anos nos perguntava de nossas cicatrizes. Meu irmão inventava histórias vagas, distantes e fantasiosas que o garoto fingia acreditar. Tudo parecia certo. Meu irmão parou o barco e ficou em silêncio. Um silêncio tão profundo que o

Recado aos amigos distantes- Cecília Meirelles

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Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança.

CARTA EM BUSCA DE DOADORES DE MEDULA ÓSSEA

Niterói, Maio de 2010 PREZADOS FAMILIARES e AMIGOS: Estamos empenhados em movimentar algumas campanhas em busca de um doador de medula óssea ou de um cordão umbilical para nosso filho Leonardo, hoje com 32 anos, portador de aplasia de medula óssea. As campanhas não são apenas para um paciente, pois o maior intento é aumentar o número de doadores no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), de modo que toda e qualquer campanha é benéfica a qualquer doente, respeitando-se a listagem e a ordem de inscrição. Entretanto, enquanto as campanhas não se iniciam, escrevemos esta carta e pedimos aos que residem em cidades que tenham postos de coleta, que se preparem para ser um doador. Convidamo-nos, além disso, a visitar a página da AMEO – ASSOCIAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA, na Internet, muito elucidativa e criteriosa: www.ameo.org.br . Lá vocês encontrarão os endereços em todas as grandes cidades brasileiras onde poderão fazer a doação, além de todas as informações indispensáveis ao proce

Sem receita - Lya Luft

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Não há roteiro ou bula, nem há receitas ou teorias que nos ajudem. Como Joana d'Arc ou Dom Quixote, guerreiros e patéticos ao mesmo tempo, brandimos palavras e criamos lemas, desfraldamos bandeiras e buscamos as nossas glórias. Dar ao mundo filhos decentes, produtivos, que por sua vez vão construir vida, profissão e família com um grau razoável de neurose e drama, é uma glória. in Múltipla Escolha - pág. 92

Uma pitada de Neruda

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"Ainda que chova, ainda que doa Ainda que a distância Corroa as horas do dia E caia a noite sem estrelas O mundo brilha um pouquinho mais A cada vez que você sorri." Pablo Neruda

BANZO capitulo 5‏

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Banzo Uma história em doze capítulos e um epílogo Capítulo 5 Eu nunca saberia o que foi dito naquele reencontro. Sei apenas o que meus olhos viram. Eles ficaram parados frente a frente durante certo tempo. Frases curtas. Silêncios. Outras frases curtas. Um olhar vago para o mundo e atento entre eles. Gestos contidos. Risos tensos. E lágrimas de ambos. Lágrimas sem nenhum abraço. ELA limpou as próprias lágrimas. O sol secava as lágrimas de meu irmão. Olham o mar juntos e em silêncio.ELA quebra a quietude. Meu irmão aponta pra mim. ELA me cumprimenta com a cabeça. E penso em como é difícil contar uma história de amor sem nunca tê-lo vivido. Voltam a olhar o mar. E misteriososamente conversam livres de toda a tensão inicial. Os risos tornam-se calmos. As lágrimas são recebidas em faces tranquilas. A maré avança mais e beija nossos pés. Há quanto tempo estamos aqui? Difícil saber... Quanto tempo... Meu irmão se despe de suas velhas roupas e invade o mar com o peito nu, seu velho corpo guar

Esforços- Charles Chaplin

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"Se um dia tudo lhe parecer perdido, lembre-se de que você nasceu sem nada, e que tudo que conseguiu foi através de esforços e os esforços nunca se perdem, somente dignificam as pessoas.”

Sensibilidade demais- Martha Medeiros

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Na hora de listar as qualidades que a gente quer encontrar nas pessoas com quem iremos nos relacionar vida afora, está lá a indefectível “sensibilidade”. A gente quer que o patrão seja sensível e não um grosso. A gente quer que nossa amiga seja sensível e não um trator. A gente quer - e como quer! - que nosso namorado seja sensível e não um machista brucutu. Encontrar sensibilidade nos outros é meio-caminho andado para o entendimento. E sermos, nós mesmos, sensíveis, também é um filtro bem-vindo, é a sensibilidade que permite nossa comoção diante de um quadro, de uma música, de um amor que nos arrebata ou de uma perda irreversível. Mas admito que sinto uma certa inveja daquelas pessoas que são sensíveis mas não se tornam vítimas da própria emoção. Porque sensibilidade demais esgota a gente.Tem horas em que o filtro não filtra coisa nenhuma: permite que a gente seja atingido profundamente por coisas que mereceriam menos entrega. Cultivamos mágoas por coisas que nos aconteceram 15 anos a

Banzo- Capítulo 4

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Capitulo 4 Há cinquenta anos eu dormia meus sonhos de jovem pescador. O mar sussurava desejos, medos e tentações nos meus ouvidos. Minha alma aceitava os suspiros trazidos pelas ondas e desenhava meu sonhar inquieto com imagens de quereres proibidos e ardentes. O mundo e os que sonhavam nele pareciam repousar em oceanos mais tranquilos. Nem todos. Uma onda mais forte quebrou na areia. Um vento forte e úmido invadiu meu rosto e meus sonhos. Acordo a tempo de ver meu irmão saltar a janela rumo a escuridão. Foram muitas noites de fugas escondidas e muito dias dormindo nas redes de pesca estendidas na sombra do entardecer. Meu irmão vestiu sua alma de encantamento. e encantado como estava, encantou. Até os peixes pareciam escolher a sua rede para serem pegos. Em uma mudança de lua a maré virou e sua alma vestiu outras cores. Suas noites eram regidas por lamentos abafados e choros incontidos. Durante os dias contemplava o mar com tristeza.Quando saíamos para pescar trazia do mar apenas o es

O convite - Lya Luft

Não sou areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. não sou apenas a pedra que rola na marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério. A quatro mãos escrevemos o roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. Lya Luft (extraído do livro "Perdas & Ganhos", Editora Record - Rio de Janeiro, 2003, pág. 12)

Você é tudo- Jorge Vercillo

Mulher...mulher...

Em homenagem à minha mãe e a todas do mundo.

Para Oninha

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Durante a infância, o menino sempre a teve por perto. Apesar da vida profissional agitada e da luta diária para proporcionar a seus filhos uma vida digna, aquela mãe sempre dava um jeito de fazer um carinho, acompanhar como iam na escola, e nem se importava quando o menino chegava do João XXIII e descia para a casa da avó, sua amada avó. Não se importava porque sabia o quanto aquele menino a amava. Mãe, esposa, lutadora. Deixou Campos e acompanhou seu marido na nova empreitada em Cabo Frio. Durante os 9 anos que ali moraram, muito sofrimento e algumas alegrias. Triste, começou a fumar. Achou que de alguma forma, aquele maldito pedaço de nicotina poderia ajudá-la nos momentos de insegurança. Graças a Deus superou isso tudo. Mesmo com os percalços, nunca deixou seus filhos de lado. Mãe atenta, amorosa e quando necessário, brava. Aquele moleque, com seus 13 anos, adorava leite moça. Sem saber manejar o abridor de latas, pegava uma faca e um socador, e o problema estava resolvido. Numa des

Abismo- Jorge Vercilo e Ana Carolina

Ousadia- Lya Luft

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"Apesar de todos os medos, escolho a ousadia. Apesar dos ferros, construo a dura realidade. Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança. Eu sou assim, pelo menos assim quero me imaginar: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper. Desculpem, mas preciso lhes dizer: Eu quero o delírio."

Voz no ouvido- Pedro Mariano

Banzo- Terceiro Capítulo

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Capítulo 3 As ondas invadiam a areia branca da praia indiferentes ao que se passava no corpo e na alma do caçador. Suas mãos fortes e poderosas que durante anos empunharam com firmeza as armas de incontáveis guerras tremiam e suavam. Ele rosnou algo parecido com um lamento e conseguiu dominar usas mãos. Tentou falar algo, mas as palavras saíram confusas e cortadas. Fechou os olhos, respirou fundo, voltou a abrir os olhos no mesmo instante em que uma onda finalmente beijou os seus pés, e como se acordasse de um sono profundo de muitos anos finalmente disse: " - Como é difícil envelhecer." Sua voz parecia ter vindo de muito longe e todo o seu corpo, toda a sua alma, pareciam estar ainda nesse lugar distante e secreto esperando por um sinal, um chamado qualquer que os trouxessem de volta. Apenas seus olhos pareciam estar no tempo presente. Analisando, guardando cada movimento do corpo dELA. Os gestos, a forma de soltar os cabelos, o andar. ELA. Era ELA que vinha pela praia, olha

Amor pra recomeçar- Frejat

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Eu te desejo Não parar tão cedo Pois toda idade tem Prazer e medo E com os que erram Feio e bastante Que você consiga Ser tolerante Quando você ficar triste Que seja por um dia E não o ano inteiro E que você descubra Que rir é bom Mas que rir de tudo É desespero Eu te desejo muitos amigos Mas que em um Você possa confiar E que tenha até Inimigos Pra você não deixar De duvidar Desejo, que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor Pra recomeçar, pra recomeçar...

Provisório- Martha Medeiros

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"Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível. Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós. "

BANZO - Capitulo 2

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Meu irmão cantava. Olhei-o com espanto. Desde o dia que partimos ele pareceu fazer um voto de semi-silêncio. Falava apenas o fundamental. Seu silêncio foi cuidadosamente cultivado ao longo de muitas décadas como uma flor rara de uma floresta obscura; e afastou suas inúmeras mulheres e seus inúmeros filhos de seu convívio. E agora, sentindo a brisa úmida de seu mar, ele cantava. Era uma música dos tempos de nosso pai que fazia sucesso nos bares dos pescadores. Ele olhava a tudo com malícia e inocência. E sorria. E rompendo de vez seu voto de silêncio ele relembrava com sabor e frescor histórias de nossa juventude. Em nenhuma ELA estava. Não o questionei. Estava por demais fascinado em ver esse seu lado secreto de contador de histórias. Éramos já velhos, e essa nova faceta aflorava pela primeira vez. Uma nova primavera pode aparecer a qualquer momento em nossa vida. E ouvindo me foi revelado mais um segredo que as palavras não diziam. Percebi que todas aquelas histórias que ele contava a

"Banzo" por Bruno Peixoto

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Tenho um puta orgulho do meu irmão Bruno Peixoto. Saiu de casa novo, foi à luta no Rio e dali rodou para BH, Cabo Frio, Niterói e outras cidades. É ator de teatro, fotógrafo, iluminador, escritor, e acima de tudo, um lutador. Mandou-me este e-mail ontem. "Olá meus amigos Quem me conhece sabe que tenho o gosto por histórias. Já escrevi algumas e outras sempre rondam a minha cabeça. A maior parte envolvendo o teatro. Por motivos diversos, nenhuma foi montada. A história que começo a enviar a vocês nada tem a ver com teatro, nem há qualquer expectativa a respeito. Em fevereiro me despedi de uma pessoa muito querida e senti um vazio imenso. Como minha rotina atual me força a ficar longe de vocês, meus amigos mais queridos,e estou vivendo questões de trabalho ainda incertas, simplesmente escrevo essa pequena história apenas para me fazer companhia em um momento de transição. E a companhia dessa história me ajuda. O formato é simples. Uma história de doze capítulos e um epílogo contada