"Banzo" por Bruno Peixoto

Tenho um puta orgulho do meu irmão Bruno Peixoto. Saiu de casa novo, foi à luta no Rio e dali rodou para BH, Cabo Frio, Niterói e outras cidades. É ator de teatro, fotógrafo, iluminador, escritor, e acima de tudo, um lutador. Mandou-me este e-mail ontem.

"Olá meus amigos

Quem me conhece sabe que tenho o gosto por histórias. Já escrevi algumas e outras sempre rondam a minha cabeça. A maior parte envolvendo o teatro. Por motivos diversos, nenhuma foi montada. A história que começo a enviar a vocês nada tem a ver com teatro, nem há qualquer expectativa a respeito. Em fevereiro me despedi de uma pessoa muito querida e senti um vazio imenso. Como minha rotina atual me força a ficar longe de vocês, meus amigos mais queridos,e estou vivendo questões de trabalho ainda incertas, simplesmente escrevo essa pequena história apenas para me fazer companhia em um momento de transição. E a companhia dessa história me ajuda. O formato é simples. Uma história de doze capítulos e um epílogo contada em pequenos microcontos.Contos pequenos que se lêem rapidamente em pontos de onibus enquanto se espera por ele (no caso de vocês para poupá-los de perder muito tempo na correria do dia a dia). Mandarei dois capítulos por semana e em maio vocês saberão o final. Como uma série que se acompanha. Como eu disse é só uma história pra me fazer companhia. Ninguém precisa fazer comentário nenhum se não quiser, e se não gostar e quiser sair da lista é só pedir. A amizade continua (mas vai ter vingança rsrsrs)

Como a história tem doze capítulos escolhi doze pessoas que gosto muito e que são muito especiais pra mim. Já mandei para doze pessoas antes de vocês e me senti mais seguro de mandar a vocês com muito carinho.Se tiver algum erro de português, desculpa. E se gostarem e quiserem enviar para alguém (há muitos queridos em comum fora da lista), fiquem a vontade. É só lembrar que é uma história em série em doze capítulos e um epílogo. Sem mais delongas, vamos a história.beijos

Bruno"


Dito isto, começo a postar aqui no "Todo Amor...", a história escrita por Bruno. E assim continuarei fazendo nos próximos sábados.


"BANZO
Capitulo 1

Cada detalhe daquele dia era sempre lembrado. O gosto da comida, o vento,os gritos que vinham da feira, o cheiro forte dos peixes mortos, o ruído do mar, o cheiro do mar,o infinito do mar e de novo o mar.
Meu irmão esperava por ELA no Princesa. O primeiro barco que ele conduziu. Em casa tudo estava guardado da melhor forma possível. Ele esperaria sob o sol por três horas até que nossa mãe o chamasse pela última vez. ELA não viria. Eu o vi se encaminhar em direção ao mar e deixou que as ondas molhassem seus pés. Deixou que a areia afundasse seus pés na areia.
Eu fui buscá-lo.
Esperava encontrá-lo com lágrimas nos olhos. Meu irmão nunca teve medo de mostar suas emoções. E ele amava profundamente tudo aquilo que estávamos prestes a deixar. O vento, os gritos da feira, o cheiro dos peixes, o mar, o mar e o mar. E ele amava sobretudo ELA.
E ELA não veio.
Ele olhava o mar como se estivesse nele. Não trocavam olhares como tantas vezes pareciam fazer (ele e o mar). Algo nele se transformava. Olhava o mar com os olhos de um caçador.
E meu irmão não chorava.
Depois de um instante de silêncio ele me disse " - Quero te pedir um favor." E sua voz tinha envelhecido muitos e muitos anos.
" - Fale." eu respondi. E ele sorriu. Um riso desprovido de alegria e esperança. E sem deixar de olhar o mar com seus olhos de caçador ele me disse.
" - Não me deixe morrer longe daqui."
Eu não deixei.
Durante muitos décadas o caçador viveu e lutou sem nunca voltar a ver o seu mar. Sem nunca voltar a ver ELA.
Até hoje.
Cada detalhe daquele dia era sempre lembrado. Cada detalhe de hoje será sempre lembrado.
O caçador voltou. "

Fim do capitulo 1.

Continua...

Comentários

Keila disse…
Adorei o texto!!
Parabéns ao Bruno!
Andréa disse…
Muito obrigada pela visita! Volte sempre! Bjs! =)
Anônimo disse…
Curiosa para ler o restante ...Parabéns ,seu blog é muito interessante !

Bjo

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