Lições de uma tragédia

Já li e vi muitas coisas sobre a tragédia de Santo André. Há alguns dias quero escrever sobre o assunto, mas preferi dar um tempinho. Não quero entrar nesse clima pesado que se formou. Nesses momentos boa parte da imprensa tenta "tirar uma casquinha" dessa situação. E isso é que mais me irrita. É a famosa guerra pela audiência. E aí o que vemos é o desprezo por pessoas, sentimentos, situações...o que vale é a exclusividade por uma matéria, uma entrevista... Cheguei num ponto que não tenho mais saco para aguentar e participar deste deprimente espetáculo!!!
Na minha opinião, outras coisas devem ser ressaltadas. Acho que a melhor lição que ficou deste triste episódio foi a doação dos órgãos da jovem Eloá. Ainda na terça, no já mencionado programa "Profissão Repórter", pudemos testemunhar o quanto é doloroso e difícil este processo. Não é qualquer família que tem a sensibilidade para uma atitude dessas!! Ainda mais depois de todo o circo montado pela mídia!! Outras 7 vidas foram favorecidas....e isso não é pouca coisa!!!! Imaginem a gratidão que essas pessoas e seus familiares e amigos terão com essa família pelo resto da vida!!!!
Só que nesses momentos, não consigo deixar de pensar nas mães de todos os envolvidos. Sei que a Eloá, sua amiga Nayara estão recebendo orações e mensagens de solidariedade de todos os lados.Mas e a família do jovem Lindenberg??? E ele??? Sabemos muito bem que ele errou. Quando falei das mães, é porque tenho por elas uma relação de profunda admiração e amor. Já presenciei momentos em que filhos eram execrados ou criticados por algum motivo, mas elas nunca os abandonaram. Mesmo não concordando com suas atitudes se mantiveram sempre ali. Junto deles. E nesse caso de Santo André, é nítido que as vibrações de ódio e vingança ficam no ar. E acabam chegando em pessoas que também estão sofrendo demais. Não sou daqueles que concordam com a tese que vale tudo por amor. É tão fácil julgar, criticar, apedrejar... Estar junto numa hora dessas que é difícil...
Mas coloquemo-nos por um momento no lugar do Lindenberg. No lugar de sua mãe. Pararam para imaginar??
Que a Justiça cumpra sim o seu papel. Mas espero sinceramente que neste momento de dor, desespero, vergonha e desprezo, algumas pessoas possam transmitir de alguma maneira, um pouquinho de amor, carinho e aconchego para os corações dessa família.

Comentários

Anônimo disse…
Não tinha parado para pensar nisso. A gente acaba entrando no que as TVs colocam no ar e se esquece que tem pessoas que realemnte estão sofrendo.
Mas confesso que não é fácil pensar algo de positivo para o rapaz. Fo muito bárbaro. Se de qq forma, vou fazer uma tentativa.
Marcelo Bessa disse…
Meu amigão Neto:

concordo com o que disse em relação À MÃE de Lindemberg. Essa, sim, merece a reflexão.
Quanto a ele, não, porque 30 anos de cadeia é pouco.

Grande abraço.

Do seu sempre amigo.

Marcelo Bessa
É como eu disse, Bessa: que a justiça cumpra seu papel.

Mesmo achando o sistema penitenciário brasileiro um desastre total!! Mas com certeza ele não pode ficar impune!!!

Grande abraço!!!
m&i disse…
Bom dia Neto,
É difícil liberar misericórdia numa hora dessas,
mas confesso que por instantes me coloquei no lugar daquela família, pensei na aflição e desespero da mãe do Lindemberg da mesma forma que pensei na família das meninas... até aquele momento eu o considerava também uma vítima, vítima de um tempo em que os valores são distorcidos em nome de um bem próprio, é a auto-adaptação daquilo que seria correto àquilo que nos é benéfico e cômodo, tudo é permitido a luz de uma era chamada "pós-modernidade". Mas, uma vez consumada a tragédia, uma onda de emoções tomou conta de mim, e o Lindemberg passou de também vítima a executor, não consegui mais distinguir, e assimilei a idéia de que o jovem rapaz agora assumira de fato a alcunha de vilão, algoz, desse terrível conto de fadas as avessas e pós-moderno.
Que a justiça seja feita.
Um grande abraço amigo!
Sérgio disse…
É meio complicado mesmo.
Foi mais um fato aterrorizante e mais uma vez a imprensa quer dar seu show de sensacionalismo. Não todos, mas infelizmente muitos.

Confesso que também fiquei muito revoltado com a assassinato. O modo com que se deu. Mas depois de ler seu texto, coloquei-me o lugar da mãe do assassino. Ou ao menos tentei. E sofri. Sofri muito.

Que a Justiça seja feita. E que essa mãe possa mesmo receber não se sabe como, o consolo necessário.

Que também as famílias das duas vítimas possam receber muitas orações. E muita paz. E com certeza, o mais emocionante na minha opinião, foi a continuidade da vida de 7 pessoas, com o transplante!!! Parabéns aos familiares da jovem Eloá. Não sei se conseguiria tamanho desprendimento numa hora tão sofriada!!!

Postagens mais visitadas deste blog

TEMPO E CONTA-Laurindo Rabelo

Antes, quase ou nunca - Clarice Lispector

O segundo- Carlos Drummond de Andrade